10 de mar. de 2008

Dados do IBGE - O “boom” evangélico na mídia radiofônica e televisiva no Brasil

O “boom” evangélico na mídia radiofônica e televisiva no Brasil
O ‘boom’ evangélico no Brasil nas últimas três décadas deu origem a uma gama significativa de reflexões acadêmicas (Pierucci, 1996 e 2006; Novaes, 1982, 1997, 2001 e 2006; Machado, 2001, 2002, 2003 e 2006; Fernandes, 1998; entre outros). Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1991, os evangélicos correspondiam a 9% do total da população. Dez anos depois, ainda segundo o IBGE, eles seriam 15,5%. E esse número continuaria crescendo: em 2007, pesquisa realizada pelo Datafolha mostrou que os evangélicos passaram a representar 22% da população nacional.
As igrejas evangélicas, sobretudo as pentecostais, tinham como marca – enfatizada por estudiosos e ao mesmo tempo por fiéis evangélicos - a exigência presencial dos membros aos cultos e campanhas da igreja. Era comum ainda a difusão de padrões de conduta moral e estética muito rígidos em relação à permissividade (segundo a visão de boa parte dos membros destas igrejas) doutrinária e moral observadas na Igreja Católica e entre seus fiéis. No entanto, tais características vêm se moldando ao “espírito do tempo” (Novaes, 2006). Em outras palavras, o investimento na mídia televisiva – o marco histórico da presença evangélica na mídia e na vida política nacional é a Constituinte de 1988 – como estratégia de colocação no espaço público implicou, juntamente com a globalização em curso, na expansão dos evangélicos no Brasil, sobretudo os pentecostais, e em novas e diversas possibilidades de “ser evangélico” (Almeida, 2006 e Benedetti, 2006).
Neste primeiro boletim, temos por objetivo mostrar resumidamente alguns marcos da história da presença evangélica nos meios de comunicação desde o início do século XX até os dias de hoje e as principais questões levantadas pelos estudiosos sobre este fenômeno.

Jornais e rádios: as primeiras incursões evangélicas na mídia.

O Evangelicalismo (Freston apud Santana, 2005) tem sua centralidade na palavra escrita e falada. Desde o início das missões protestantes no Brasil (a partir da década de 1830), era difundida a importância da leitura nesta que ficou conhecida como a “religião da palavra” (Mafra, 2001). Eram populares, no meio protestante, máximas como “a ignorância é a mãe da heresia” e “o saber e o conhecimento vêm de Deus” (Mafra, 2001). Esta percepção fez gerar um sem número de iniciativas protestantes de difusão cultural e em prol da alfabetização da população. Tratados (pequenas brochuras) eram editados por missionários e distribuídos no universo protestante. Seu conteúdo era composto por respostas a questões religiosas, noções de auto-ajuda e comportamentais. O primeiro jornal evangélico no Brasil e América Latina data de 1864 e foi chamado Imprensa Evangélica. Este jornal surgiu por iniciativa de Simonton, missionário fundador da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. As instituições de ensino eram, igualmente, um esforço das igrejas históricas de missão (como se convencionou classificar no Brasil os luteranos, presbiterianos, anglicanos e metodistas) em evangelizar e promover a alfabetização de possíveis representantes formais dessas denominações. Já no século XX, mais precisamente na década de 1940, surgem os primeiros programas de rádio evangélicos (Fonseca, 2003 e Santana, 2005). As pioneiras foram a Igreja Adventista e a Assembléia de Deus – esta já possuía um jornal distribuído desde 1930 até os dias de hoje, o Mensageiro da Paz . Em 1950, Robert MacAlister iniciou o programa de rádio denominado “A Voz da Nova Vida” – programa que deu origem à Igreja Nova Vida na década seguinte. Da “Igreja Eletrônica” aos Programas Evangélicos Nacionais
Em 1960 surgiram os primeiros programas evangélicos na TV brasileira. No entanto, não eram programas veiculados em rede nacional, mas sim local e de curta duração. Assim como na programação radiofônica, na televisiva também foram os adventistas os pioneiros. O primeiro programa pentecostal na TV foi veiculado na TV Tupi sob a direção de MacAlister da Igreja Nova Vida. Até os anos 1980 eram muitos os programas de televisão evangélicos norte-americanos (Santana, 2005 e Fonseca, 2003). A presença desses pastores e missionários na tv nacional ficou conhecida como Igreja Eletrônica (Assaman, 1986). Dentre os programas norte-americanos mais veiculados na época estavam os de Rex Humbard – Alguém ama você e de Pat Robertson – Clube 700. Mas, sem dúvida, eram os cultos do pastor Jimmy Swaggart os programas mais populares. A partir de meados dos anos 1980 a produção brasileira evangélica para a TV se tornou independente e passou a ocupar espaços em redes nacionais. O caso mais popular dessa “ocupação do espaço midiático” foi a Rede Record. Em 1989 a IURD adquiriu a Rede Record de Televisão “se tornando a primeira denominação evangélica a ser proprietária de uma televisão com cobertura nacional” (Santana, 2005:57). Atualmente a IURD conta com editora, centenas de livros de autoria de seus pastores, CDs, DVDs, com a Folha Universal, jornal com tiragem semanal de um milhão e meio de exemplares e, finalmente, com a Rede Record de televisão (o Bispo Edir Macedo não diz que a IURD é dona da Record, publicamente o discurso é de que ele é o principal acionista da empresa e não a Igreja) que é composta por 30 emissoras ocupando o 3º lugar no ranking nacional, ficando atrás somente da Rede Globo e do SBT . A IURD era também dona da Rede Mulher atual Rede Record News – primeiro canal aberto de telejornalismo 24h no ar lançado com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro de 2007. As outras igrejas evangélicas mais populares a possuírem rede de televisão são a Igreja Internacional da Graça de Deus, comandada por R.R. Soares, a Rede Internacional de Televisão; a Assembléia de Deus que opera a Rede Boas Novas com duas emissoras e dezenas de retransmissoras no Norte do país e a Igreja Renascer em Cristo que possui uma rede de televisão (Rede Gospel), uma rede de emissoras de rádio (Rede Gospel FM), jornais, uma gravadora de música evangélica e possui a patente da palavra gospel no país .
Na grade de programação semanal das emissoras abertas e de sintonização irrestrita no Rio de Janeiro (TVE, Rede Globo, Rede TV, Bandeirantes, Record e SBT) é possível perceber o número significativamente maior de programas de igrejas evangélicas em relação às demais expressões religiosas existentes no Brasil. A média de programas evangélicos das mais variadas denominações – desde a IURD e Igreja da Graça até Igreja Bola de Neve e Igreja do Evangelho do Bom Retiro – é de 28 por dia. As segundas-feiras e quartas-feiras há uma presença maior de programação evangélica no ar. São 29 inserções. Nestes dias não há manifestação de outra expressão religiosa. Somente aos domingos há um programa espírita de trinta minutos e um da comunidade judaica de uma hora . Esses números são expressivos da importância atribuída, principalmente, à mídia eletrônica pelos evangélicos pentecostais e neo-pentecostais na disputa e consolidação da sua presença num universo religioso plural e que dialoga cada vez mais e de forma mais intensa com o curso da globalização. Conteúdo da programação evangélica: um universo em mutação

As emissoras de rádio são as mais populares entre o público evangélico . Em todo o país as rádios evangélicas somam trezentas . diversos perfis. Neles são veiculados: campanhas da igreja; exorcismos; cultos em casa com orações e bênçãos; há os programas de aconselhamento; testemunhos; programas de debates com personalidades do mundo evangélico e, finalmente, programas destinados (na totalidade ou em boa parte do seu tempo) à venda de produtos com a “marca” evangélica como CD’s, DVD’s, roupas, livros e revistas. “Uma grande máquina televisiva cumpre também uma extraordinária missão arrecadadora. Não por acaso, a Universal é a igreja que mais recolhe doações acima de 10% do dízimo convencional. O rádio e a TV servem ainda de canal para a transmissão de modelos culturais e de comportamento. Aline Barros, uma cantora de 25 anos (...) já vendeu mais de um milhão de cds de música pop evangélica. Cassiane, com três milhões de discos vendidos, é outra estrela do gênero. A banda de Rock Pauleira Oficina G3 ultrapassou os limites da igreja apresentando-se no último Rock In Rio”

O ciber-espaço (além da TV e das rádios) é amplamente utilizado como meio de evangelização e para aconselhamento, como veículo de divulgação de informações destes universos religiosos e do “mundo secular”, como meio para a divulgação da agenda das igrejas, para incrementar a venda de produtos e para promover a formação de pastores . Atualmente existem sete vezes mais pastores evangélicos (muitos deles formados por “cursos à distância”) que padres católicos . O debate sobre a mídia e seu papel na organização social contemporânea é tema de variados estudos acadêmicos. No Brasil, país com a maior Receita Publicitária da América Latina, a investigação das disputas em torno da concessão pública de emissoras de rádio e televisão se tornou ainda mais central quando se passou a observar o enorme crescimento dessas de inscrições religiosas, com destaque para os pentecostais, em primeiro lugar, e para os Carismáticos Católicos, em segundo lugar.

Um comentário:

elo disse...

Essa obra prescisa de estratégias para crescer, e se uma delas é o rádio e televisão que assim seja!...